Para os meus pais,,,

Vocês partiram no início de um novo ano.

Fazia muito pouco tempo que eu havia escrito uma lista cheia de desejos bons para o ano que ali começava. Lista modesta, de poucos itens – eu já tinha tudo o que queria.

Foi difícil aceitar que, nos tantos dias que viriam pela frente, ao invés de cuidar da lista, eu faria uma contagem regressiva, na torcida para que passasse logo a dor aguda. Cheguei a pensar que eu estava condenada a senti-la para sempre.

Renasci no Dudu. Meu delicioso desafio. Vida que é falta e presença. Nós e vocês. Ele mesmo. Que já nasceu traçando história. Eu sabia desde o nascimento dele que ele trazia algo novo: um milagre só dele.

Ele já tem quatorze anos. Ainda é um menino. Tem a idade da falta. Mas veio para marcar uma presença nunca sonhada. Veio para me desabrochar. Da criança que chorava à toa, tornei-me a mulher que ri de si mesma. Sou uma mulher que sorri.

Eu achava que minha dor nunca iria passar. Vieram outras. E outros desejos, sonhos, imprevistos. Vieram desafios. Sem a necessidade que vocês precisassem ir. Vocês permanecem.


Já faz quase cinco anos. A passagem de um segundo a outro nunca foi tão definitiva. O tempo agora vale mais. É absolutamente necessário que cada momento seja bom e simples. Sigo nesse exercício – que é de sabedoria, mais que de força.


Essa medida sutil do tempo é o futuro que não existe. A vida, que por ser grande é simples. Eterna e etérea. Sua ida me ensinou isso: cada batida do relógio é reveillón.


Não sei para onde escrevo, mas sei que vocês me lêem. Pois faço-lhes um pedido de ano novo, "Quando varrerem estrelas, pede para jogá-las sobre nosso telhado."

De cá, eu e o Dudu acendemos estrelinhas, na esperança de que cheguem até vocês.

Nenhum comentário: