A gente ignora uma coisinha ali, finge que não vê aqui, deixa aquilo pra lá. Vai deixando. Vai empurrando. Chega uma hora que o amontoado é tão grande, que desaba sobre a gente. É nessa hora que a gente mais sente. Que a gente mais chora. Porque tudo o que foi passando como coisa boba, como um “não é nada” se transforma em tudo. Geralmente é à noite que o amontoado cai. Bem na hora que a gente deita a cabeça no travesseiro e tenta dormir. Dormir? Que nada! Quem disse que o amontoado deixa? Lá vem ele, caindo, cobrindo, atiçando. E como atiça. Lembra daquilo que você deixou passar? Daquela palavra boba que te disseram? Lembra disso, daquilo? E o pior é que a gente lembra. A gente tenta ignorar, mas lembra. E por lembrar, é que a gente sente tanto. Se acaba tanto. Acaba se entregando ao amontoado, até que o dia clareie, a gente precise se livrar dele, pra partir pra outra luta. Pra juntar mais um amontoado de coisas pra lembrar - e desmoronar - depois.

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