Porque eu sempre fui assim, meio sozinha. Sempre sozinha. Sempre na minha. E se alguma lágrima ameaçava cair durante o dia, a segurava , com toda força, para à noite, entre a negritude, o frio e o silêncio, desabar. E o que seria uma lágrima boba acaba virando choro pra noite inteira. Porque eu sempre fui assim, acinzentada. Sempre fui despedaçada. Por dentro cacos e cacos. A alegria foi morta muito cedo, e deu espaço a esse vazio que me consome diariamente. Essa falta. Porque sempre fui assim, solitária. E minhas dúvidas sempre tive que mastigar sozinha para quem sabe cuspir uma solução. Perdida. Sempre me senti assim. Calada. O que tinha para falar não falava, e muitas falas ainda estão gravadas em mim, como se eu pudesse voltar no tempo e colocá-las em prática. Mas não posso. Guardei comigo tudo o que devia ter dito, as atitudes que devia ter tomado. Porque eu me entorpeci e me escondi nessa nuvem. Porque minha visão é embaçada, meu sorriso não disfarça, o medo vive sussurrando ao meu ouvido palavras que me intimidam e me tiram a calma. Descalça. Sinto como se corresse num caminho desconhecido, cuja visão aparece vagarosamente, de acordo com meus passos. E meus pés, tocando o chão pedregoso, ferindo a carne. Porque eu sempre fui assim, meio caída. Meio cabeça baixa. Meio louca, desvairada. Porque eu e meus pensamentos sabemos das horas que perdemos procurando algo e encontrando o nada. Porque meus pés estão cansados de correr e não chegar a lugar algum. E meu corpo, pobre corpo cansado, já não sabe por quanto tempo mais continuará de pé. E meu coração, triste coração ferido, já não sabe quantas cicatrizes mais conseguirá manter. E eu, desvairada solitária, continuarei assim, sem saber o que fazer.

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